MORENO | Esperando...


Enquanto encaro o teto escuro do quarto, a espera de algo que eu sei que não virá, pergunto me se tu também tens dificuldades para dormir, se também encaras o relógio a perguntar te quanto tempo ainda tens para descansar — ou tentar. Agora, resta me pouco. Reviro na cama a procura de uma posição mais agradável, mas de nada adianta e retorno para a inicial. Queria saber se tu também pensas muito antes de conseguires adormecer, se pensas ao ponto de manter a cabeça desperta enquanto o corpo clama por descanso. E se pensas em mim. Nessas noites em que a insônia brinda com o teu nome, só consigo lembrar de nós e de todas as promessas. Penso se, talvez, ainda haja tempo de cumpri-las. Imagino que tu também estás a perguntar te por isso. Quem sabe parado na mesma posição que eu, a procura no nada a resposta para tudo. A olhar a imensidão sem cor do teto do teu quarto a querer saber se eu também estou a tentar te encontrar ali, naquele breu desnorteante que aglutina o nosso sono e invade a alma dilacerando a ausência que o nosso “nós” transborda. E eu penso o que tu farias se eu te confessasse que te procuro nos fios de luz que a janela cria na parede. Penso em ti e em mim e no que a gente algum dia foi e o que ainda podemos ser, sem conseguir impedir que a sua boca tome conta da minha visão. Penso se tu ainda te lembras do meu gosto. Do meu toque. Do meu beijo. Suspiro e tento controlar o desejo de te ter. Aqui. Agora.


Queria saber o teu número, mesmo sem ter certeza se eu te ligaria. Tu ainda deves ter o meu. Tu costumavas guardar tudo numa agenda de emergência, naquela época o meu número estava lá. Talvez ainda esteja, mas tu não me vais ligar. Nem se for urgente. Nem se eu for a última pessoa a quem pedir socorro. Mesmo que estejas a pensar em mim enquanto a madrugada engole as tuas chances de pregar os olhos, mesmo que ainda penses na nossa história e quanto tínhamos tudo para dar certo. Tu nunca vais admitir que, juntos, estragamos tudo, e talvez isso nem tenha tanta importância, sabes? Assumir que podíamos ter sido um desses amores de cinema não muda o fato de que já não somos mais coisa alguma. Nós ficamos no passado, ou pelo menos deveríamos ter ficado. Mas eu penso em ti e penso se tu também pensas em mim e se também regas a esperança de que ainda haja alguma coisa para fazer. Não tem. Eu sei. Mas eu queria que tivesse. Por isso vago com os olhos pelos quatro cantos que estruturam o meu quarto e procuro por algo que eu gostaria que estivesses aqui. E indago se tu também querias que eu estivesses aí.

No fundo eu sei que tu também sentes saudades, uma igual a minha, que dói na alma a ausência de um fantasma que permanece vivo dentro de nós. Uma saudade que fere e que arde e que grita a sua sobrevivência, apesar de todas as tentativas de a matarmos. Uma saudade que vocifera a nossa inutilidade diante os fatos que a vida nos impõe. Nosso final é um deles: objetivo e doloroso. Um fato tão claro quanto o nosso amor permanece sendo. Queria voltar no tempo para tentar fazer diferente. Acredito que tu também queiras, ou, pelo menos, te perguntas de vez em quando se podíamos ter feito por dar certo. Se podíamos ter dado em algum lugar. Podíamos, sim, mas não sei se teríamos, a verdade é que fizemos o que era preciso, mesmo destruindo um ao outro. Por isso sei, também, que não dá mais. Ficou muito tarde para recomeçar. Ficamos estraçalhados demais para correr o risco de acabar pior. Mesmo que eu só pense em to. Mesmo que tu também penses em mim. Não é suficiente. Não somos suficientes. Talvez nunca tenhamos sido, por isso acabamos por nos quebrar. 

Fazemos parte daquele grupo de amores que não saem da idealização no teto de um quarto. Que vivem e morrem na imensidão de algo que nunca chegou a acontecer. Não porque não queríamos, nós queremos, eu sei, é por não aguentarmos o peso de uma história como a nossa, um romance que aperta e sufoca e esmaga. E salva. Queria poder nos salvar de nós, eu sei que tu também, mas somos tóxicos demais para estarmos junto. Esse é o nosso maior problema: ruim longe, pior perto. A gente arrisca no que sangrar menos. Por isso eu não me lembro do teu número. Por isso tu não me ligas no meio da noite a dizer que pensaste em mim, mesmo quando pensas. Independente do tamanho do nosso amor, o estrago que causamos um no outro é muito maior. Então é melhor deixar assim. E eu me pergunto, antes que o sol apareça e me force a levantar, se tu também pensas assim. Por um minuto, não chega a ser mais que isso, eu queria que não.

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