SE EU FOSSE ARABELLA | O dia em que bati com a cabeça na sanita


Agosto, mês dos emigrantes, é quase um segundo Natal ou uma segunda Páscoa: os familiares juntam se à volta de uma mesa que para além de estar cheia de comidinha da boa é acompanhada por histórias da família. Histórias essas que costumam ser vergonhosas e das quais nós nem temos como nos defender. No meu caso, contam sempre a mesma história e, sem saber sobre o que mais escrever, decidi partilhar convosco a história. É importante que tenham em conta que vos vou contar como é que foi a madrugada em que eu nasci, ou seja, eu não me lembro de como as coisas aconteceram, ou seja, vou limitar e a contar aquilo que a minha mãe e o meu pai me contaram.

Como já podem ter percebido, nasci no sétimo dia de novembro de 1998. Nessa altura a minha irmã mais velha tinha um ano e nove meses, motivo pelo qual a nossa bisavó estava connosco em casa, assim quando a minha mãe entrasse em trabalho de parto a nossa avó Luísa ficaria a tomar conta da Rafaela. Na noite do dia anterior já tudo estava pronto para a minha chegada, o berço estava montado, o enxoval comprado e as malas da maternidade prontas, aquela tinha sido uma noite como todas as outras, tão comum que quando esta história é contada ela não é incluída. Geralmente a introdução é feita com o parto da minha irmã, que fez a minha mãe passar mais de onze horas na maternidade [o tempo entre a bolsa estourar e o rebento nascer, mais ou menos], motivo pelo qual a o primeiro parto foi uma experiência traumática para a minha mãe. E foi por causa de todas as horas que tinha passado desnecessariamente no hospital no ano anterior que, no início da madrugada quando a minha mãe acordou com as contrações, acordou também o meu pai e pediu lhe que levasse às malas para o carro, enquanto ela ia avisar a sua avó de que eu ainda deveria nascer nessa dia. Depois de já toda a casa estar acordada e entusiasmada com a aproximação dos meu nascimento a minha mãe decidiu ir tomar um banho, tendo em conta o tempo que a sua primeira filha tinha levado a nascer julgou que tinha mais do que tempo para ir bem cheirosa para o hospital. Pois bem, enganou se. Segundo o que contam ela só teve tempo de chamar pela avó Luísa e tão rápido quanto isso já estavam a cortar o cordão umbilical. E acreditem, esta é a versão romantizada na história, porque à mesa só se costuma dizer "aí a minha Cristina nasceu lá em casa, por isso é que ela é assim, bateu com a cabeça na sanita..."

Depois disso, houve uma longa viagem até à maternidade, na qual o meu pai foi sempre aos berros à pedir que eu chorasse, visto que essa era a única forma que ele tinha para se certificar que eu ainda ia viva. Chegando ao hospital, a malta de lá não gostou muito de me ver e não me queriam deixar entrar, usando o argumento que uma vez que eu já tinha nascido não havia motivo para nós ali estarmos. Infelizmente sobre está parte já não sei muita coisa, visto que não é esta a parte da história que interessa, de resto só sei mesmo que eventualmente nos deixaram dar entrada no hospital e no mesmo dia já lá estava a família toda para me visitar e encher de prendinhas cor de rosa.

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